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Madre Teresa e a resposta integral ao drama do aborto
Onde as comunidades não seguirem o exemplo do amor dado e proposto por Madre Teresa, maus legisladores conseguirão com facilidade aprovar leis más e confundir os ingênuos
[dropcap]E[/dropcap]m dezembro último, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou um projeto de lei que legaliza o aborto até a 14ª semana de gestação. O triste fato foi bastante comentado e, em meio ao mar de más notícias que pulula em nossas mídias, voltar a ele pode parecer excessivo para muitos. Contudo, um dos muitos comentários postados na época me chamou a atenção e parece-me justificar um retorno ao tema. A data da aprovação do projeto de lei na Argentina (11 de dezembro), quase coincide com o 41º aniversário do discurso Madre Teresa de Calcutá, ao aceitar o Prêmio Nobel da Paz, em 1979, no qual ele fez uma dura condenação ao aborto.
Na época, a santa declarou que “o maior destruidor da paz hoje é o choro da criança inocente por nascer. Pois se uma mãe pode matar seu próprio filho em seu próprio ventre, o que falta para você ou eu matarmos um ao outro? […] as nações que legalizaram o aborto são as nações mais pobres. Eles têm medo do pequeno”. Muitos anos depois, em 1994, ela se expressou em termos semelhantes no “National Prayer Breakfast”, evento anual organizado pelo Congresso dos Estados Unidos em parceria com a fundação cristã The Fellowship.
A mensagem da santa de Calcutá
A questão que me interessou, nesses acontecimentos, foi saber o que mais Madre Teresa havia dito sobre o aborto, além de condená-lo. Transcrevo (numa tradução minha), a continuação de seu discurso ao receber o Nobel:
“E então, hoje, vamos tomar uma decisão firme, vamos salvar cada criança, cada criança que ainda não nasceu, dar-lhes uma chance de nascer. E o que estamos fazendo, estamos lutando contra o aborto por adoção, e o bom Deus abençoou o trabalho tão lindamente que salvamos milhares de crianças, que encontraram um lar onde são amadas, são desejadas, são cuidadas. Trouxemos tanta alegria para as casas que não havia uma criança […] em muitas de nossas famílias e em muitos de nossos lares, talvez não haja fome de um pedaço de pão, mas talvez haja alguém aí que é indesejado, não amado, não cuidado, esquecido, não experimenta o amor. O amor começa em casa. E o amor para ser verdadeiro tem de doer”.
Santa Teresa não estava apenas preocupada com a ação do Estado e com as legislações nacionais, o foco maior de seu discurso estava nas famílias, no amor que se vive nos lares, na nossa capacidade de acolher aos que necessitam. E aqui com certeza existe alguma coisa que vale a pena ser sempre lembrada e reforçada – afinal, nossa indignação com a injustiça sempre será necessária, mas é a caridade (o amor) que permanecerá (1 Cor 13).
Uma tarefa que é de todos
Para a imensa maioria dos cristãos, o apoio legislativo à vida se dá em alguns poucos momentos: um abaixo-assinado ou um ato público no momento da votação de uma nova lei ou em datas especiais, um discernimento mais cuidadoso na hora de escolher o candidato em quem votar. Um número maior, mas ainda relativamente pequeno, se propõe à tarefa educativa ou à militância – e aí se envolve com as questões legislativas pró-vida por mais tempo. Alguns, pouquíssimos, trabalhando como parlamentares, assessores ou influenciadores diretos, têm um envolvimento constante com as questões legislativas pró-vida.
Mas todos nós temos o compromisso permanente de criar um ambiente favorável à defesa e à acolhida da vida. A todo momento, o desamor, a indiferença, a violência, estão fazendo com que alguém perca a noção da beleza da vida e da esperança. A todo momento, por nossos gestos e nosso testemunho, podemos mostrar a nossos filhos, a nossos parentes, aos amigos e conhecidos, que o amor não é um sentimento ilusório, que a solidariedade pode sim fazer um mundo diferente, que o mal não dará a última palavra onde existe o amor.
Essa tarefa permanente era evidente para Santa Teresa. Ela, evidentemente, condenava as legislações contrárias à vida, mas sabia que as manifestações do amor, da solidariedade e da acolhida são o fator que desnuda definitivamente a falsidade das supostas boas intenções que defendem o aborto.
Muitos lutam pela vida adotando crianças, como lembrado por Santa Teresa, em seu discurso. Outros, apoiando mulheres grávidas e mães em dificuldade. Todos somos chamados à prontidão e à disponibilidade, para não nos omitirmos quando a necessidade bater a nossa porta. Para isso, é fundamental criarmos e vivermos em comunidades sensíveis e educadas à solidariedade. Sozinhos, muitas vezes nos sentiremos pequenos diante da magnitude dos desafios, em comunidade, com a ajuda da Graça, veremos que tudo será mais fácil e possível.
Legislações contrárias à vida não prosperam apenas pela força do mal, mas também – talvez, principalmente – pela fraqueza de nossa adesão ao bem. Onde as comunidades não seguirem o exemplo do amor dado e proposto por Madre Teresa, maus legisladores conseguirão com facilidade aprovar leis más e confundir os ingênuos.