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Crianças passam por maus

bocados para irem à escola

Pontes que ligam comunidade caíram há

mais de um ano em Cáceres (MT). Grupo

de 40 crianças e adolescentes viaja

240 km por dia para estudar

Crianças viajam 240 km para estudar em ônibus sucateado e sem ar em Mato Grosso (Foto: Reprodução/TVCA)

 

Denise Soares / G1 MT

Um grupo de 40 crianças e adolescentes viaja oito horas por dia em um trajeto de 240 km para conseguir estudar em Mato Grosso. As crianças e adolescentes vivem no Distrito de Caramujo, zona rural de Cáceres, a 220 km de Cuiabá, e estudam na cidade de Lambari D’Oeste, a 327 km da capital.

A escola mais próxima fica a 34 km da comunidade rural, porém, há um ano e meio as únicas duas pontes de madeira, que ficam sobre o Rio Cabaçal, caíram após fortes chuvas e alagamentos. A Prefeitura de Cáceres informou que não tem estrutura e nem recurso para refazer as pontes.

Por isso, as crianças precisam viajar de ônibus para estudar no outro município. Em geral, os estudantes saem por volta de 7h e só retornam às 20h. São quatro horas para ir, mais quatro horas para voltar em um trecho de 120 km, também de ida e volta.

 

Pontes de madeira, que ficam sobre o Rio Cabaçal, caíram há mais de um ano e meio em Cáceres (Foto: Reprodução/TVCA)

 

Os filhos de Fátima de Almeida – Gabrieli, Tainara e Gabriel, que têm entre 8 e 11 anos – acordam cedo e esperam o ônibus na beira da estrada. O veículo, que não tem ar-condicionado, passa pelas fazendas e propriedades da região para levar os filhos dos trabalhadores para estudar.

 

Crianças viajam mais de oito horas por dia e percorrem 240 km para estudar (Foto: Reprodução/TVCA)

 

No veículo viajam apenas as crianças e o motorista, sem nenhum outro adulto para supervisionar os estudantes. Entre cada fazenda, são os próprios alunos que descem do ônibus para abrir e fechar as porteiras.

Os estudantes reclamam do trajeto longo e cansativo, já que a maior parte da viagem é por uma estrada sem asfalto, o que faz com que o ônibus balance demais. Algumas crianças passam mal, sentindo enjoo e mal estar.

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São as próprias crianças que abrem e fecham as porteiras das fazendas durante o trajeto (Foto: Reprodução/TVCA)

 

“É muita poeira e a estrada é muito ruim, dá mais cansaço ainda”, disse a aluna Pâmela Raiane da Silva. Ao longo do trajeto, o ônibus começa a lotar e algumas crianças continuam a viagem de pé.

Reflexo nos estudos
Segundo o professor Luiz Elias Gonçalves, todo esse sacrifício na viagem acaba refletindo diretamente na aprendizagem dos alunos. Ele diz que o rendimento dos estudantes não é o esperado.

“Eles chegam à escola visivelmente cansados e nós nos preocupamos com eles. Procuramos ajudá-los da melhor forma possível e não é fácil. [O rendimento] não é satisfatório, quando aplicamos avaliações a gente percebe a dificuldade que o aluno tem da assimilação do conteúdo”, declarou o professor.

 

No trajeto de volta para casa, algumas crianças ficam cansadas e dormem no ônibus (Foto: Reprodução/TVCA)

 

Volta para casa8

Depois da aula, os alunos voltam a fazer o mesmo trajeto, com mais quatro horas de viagem em 120 km de estrada. Algumas crianças não aguentam e acabam dormindo nos bancos do ônibus. Por volta de 22h, mesmo depois de jantarem e tomarem banho, as crianças ainda não podem descansar, pois precisam fazer as tarefas de casa. Os irmãos Gabrieli, Tainara e Gabriel dizem não ter tempo para brincarem após a escola.

 

Gabriel se diz cansado e sem tempo de brincar após a viagem para estudar. (Foto: Reprodução/TVCA)

 

“É muito cansativo né? A gente sai cedo e chega só a essa hora da noite, a viagem é muito longa, a poeira bate muito, o ônibus balança muito, meu estômago começa a embrulhar demais’’, disse Gabrieli.

A irmã de Gabrieli, Tainara, diz que tem dificuldades em conseguir entender as tarefas. Perguntada sobre a matéria mais difícil, ela conta que tem problemas em compreender as contas matemáticas. “Tem que raciocinar bem, pensar bem nas contas. Quando chega muito cansado não dá pra fazer direito”, disse.

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A mãe das crianças reclama da demora em consertar as pontes. “As crianças saem cedo, voltam à noite, doze horas longe de casa. Eu já pensei até em ir embora e tirar minhas crianças da escola. Só que a gente precisa trabalhar e eles precisam estar na escola”, lamentou Fátima.

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