Internacional
Reeleição de Trump: o que muda para os imigrantes brasileiros nos EUA?
Com endurecimento das políticas de fronteira, Trump também promete green cards para estrangeiros qualificados, enquanto controle republicano no Senado deve facilitar implementação de medidas mais rígidas
A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz consigo uma série de expectativas sobre o futuro das políticas de imigração americanas. Sendo um dos temas centrais do debate eleitoral, a imigração deve ganhar ainda mais destaque durante o segundo mandato de Trump, especialmente com o fortalecimento de medidas para conter o fluxo de imigrantes ilegais. E, em meio a esse cenário, brasileiros, que hoje representam a décima nacionalidade com maior presença nos EUA, podem ver mudanças significativas em suas perspectivas de permanência e regularização no país.
De acordo com Rodrigo Costa, especialista em mobilidade global e CEO da Viva América – uma assessoria imigratória com foco no público brasileiro –, a manutenção de um governo republicano alinhado a uma maioria no Senado indica que Trump terá liberdade para intensificar o controle de fronteiras. Para Costa, “o Executivo tem certa autonomia para implementar medidas relacionadas ao controle de imigração e à atuação das agências de segurança nacional”, e é justamente isso que se espera com a posse do presidente reeleito.
Ao longo de sua campanha, Trump prometeu endurecer as regras de controle fronteiriço e reforçar a fiscalização para limitar a entrada de imigrantes em situação irregular, chegando a anunciar que pretende realizar a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos. A situação é preocupante, principalmente para os cerca de 11 milhões de indocumentados que vivem no país, segundo estimativa do Pew Research Center. Contudo, enquanto amplia o cerco aos imigrantes ilegais, Trump também vê uma necessidade de atrair mão de obra qualificada e chegou a afirmar que estrangeiros graduados em universidades americanas poderão, sim, obter o green card.
A esse respeito, os números falam por si: o Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS) aponta que, atualmente, há 7,4 milhões de vagas de emprego abertas nos EUA, enquanto o total de desempregados é de apenas 7 milhões. A escassez de trabalhadores para preencher essas vagas torna inevitável a inclusão de profissionais estrangeiros, como destaca Costa: “A solução para o déficit de mão de obra passa necessariamente pela atração de profissionais qualificados que desejam uma carreira no mercado americano.”
Para os brasileiros, o fluxo de imigração tem sido crescente e intenso. Em 2023, mais de 1,158 milhão de vistos foram emitidos para cidadãos do Brasil, um aumento de 42% em relação ao ano anterior, e um recorde histórico para o país. Apenas México e Índia obtiveram mais autorizações. Dados de um levantamento da AG Immigration mostram que o Brasil também alcançou o maior número de green cards emitidos, com 28.050 autorizações de residência permanente em 2023, e mais de 12.500 naturalizações americanas, registrando o segundo maior índice da série histórica. Esses números refletem um interesse contínuo dos brasileiros em migrar para os EUA, movidos por fatores como as melhores oportunidades de emprego e uma qualidade de vida mais elevada.
No entanto, a questão da entrada legal versus ilegal terá um peso significativo no governo de Trump. Segundo Costa, para os brasileiros que seguem as vias legais para a imigração, as novas políticas podem até facilitar a entrada no país. Entretanto, aqueles que tentam atravessar ilegalmente ou que permanecem sem documentos enfrentam um cenário de incertezas. O especialista aponta que “os esforços do governo Trump tendem a se concentrar na fortificação das fronteiras e na eliminação de políticas que facilitavam o asilo, como decretos assinados pelo governo Biden”.
Durante a campanha, a imigração foi um dos temas que mais mobilizaram o eleitorado americano. De acordo com um levantamento da YouGov, realizado no início de outubro, 39% dos entrevistados indicaram que o tema imigratório é uma de suas principais preocupações, ficando atrás apenas de economia e saúde, com 69% e 46% das menções, respectivamente. Essa constante atenção ao tema pode, inclusive, estimular Trump a implementar ainda mais ações nesse campo, mantendo a promessa de proteger as fronteiras e priorizar o emprego de cidadãos americanos.
Ainda que a imigração legal não seja diretamente impactada pelo novo governo, a visão republicana de Trump, focada na segurança nacional, indica que o rigor no controle de fronteiras deve persistir. Com o aumento de recursos para agências de imigração e possíveis mudanças nas regras para o pedido de asilo, muitos brasileiros que buscam o “sonho americano” deverão estar atentos às vias legais e às oportunidades que se abrem para profissionais qualificados.
Em resumo, a reeleição de Trump representa um momento de alta atenção para a comunidade brasileira que vive nos Estados Unidos, além daqueles que pretendem iniciar uma nova vida no país. Para aqueles que desejam imigrar legalmente, as oportunidades continuam a crescer, impulsionadas pela falta de mão de obra nos EUA. Contudo, os desafios para quem tenta ingressar de forma irregular estão mais visíveis do que nunca, exigindo cautela e planejamento dos novos imigrantes.
Jornal O Comunitário – Da Redação/Conteúdo
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