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Zé Bacuri: o implacável
Um velho ditado garante que: “Quando o vivente está de azar na vida, se Deus dá a farinha, o diabo carrega o saco”. E pelo que eu tenho observado, isso é fato, não somente em relação a pessoas, mas a cidades inteiras. O pior dessa maldição é que, se tem um só Deus pra dar a farinha, existem legiões de capetas desempregados e sacanas prontos pra roubarem o saco do infeliz necessitado. Conheci um camarada tão azarado, mas tão pé frio, que certa vez ele pegou um porco pra engordar à meia. O desgraçado do suíno só engordou de um lado, claro, o lado do outro parceiro, que era dono do bicho, e rico. Mulher de rico faz tratamento pra engravidar, e muitas vezes não consegue o intento. Mulher de pobre mesmo bebendo pílula aos punhados não para de dar cria feito ratazana.
Tem cidade que é a mesma coisa. Umas crescem feito rama de abobreira e se desenvolvem mais que empresa de filho de Presidente ou gado de senador alagoano. Pode parecer mentira, exagero, apologia ao sinistro, mas esse mistério existe. Tanto existe que se uma mesma área de terra cultivável é distribuída entre vários cultivadores, e esses plantam a mesma qualidade de sementes, no mesmo dia, da mesma forma e condições climáticas, na mesma fase da lua, usando os mesmos corretivos de solo, o mesmo tipo de adubo, nas mesmas proporções de espaçamento, pode observar que os quinhões de uns ficam mais viçosos e frutificam mais que outros. Alguns chegam a fazer divisa que pode ser vista de longe. Já plantei lavoura e já vi isso acontecer dezenas de vezes. O pessoal da roça costuma dizer que uns tem a mão melhor que outros para plantar. No reino animal é a mesma coisa. Tem sujeito que se comprar uma porca nos dias de dar cria, corre o risco de nascer um punhado de cachorrinhos vira-lata. Tem sujeito que põe galinha pra chocar uma dúzia de ovos e vem 15 pintinhos. Outros põem uma dúzia pra chocar, vem o mão-pelada e come galinha com ovo e tudo e ainda caga no ninho.
E como diz o Aloísio, se pobre montar fábrica de chapéu, o povo nascem sem cabeça, e no dia que merda valer dinheiro, pobre nasce sem (*). Aqui tinha um turco que dizia: “Quando eu vejo que o sujeito é do tipo azarado, não o ajudo de jeito nenhum. Tenho medo de ser contaminado”.
Cáceres me parece enquadrada nesse particular, ou seja, no rol das cidades pé-de-gelo. É só falar que vem alguma coisa interessante pra cá, logo entra água na canoa, emborca, vira nada. E quando sobra alguma merreca, as obras com elas começadas geralmente nunca são concluídas. As raras que chegam ao seu término, via de regra, terminam de péssima qualidade. E isso é histórico, e não de hoje. Nesse caso, o pé frio foi o Luiz de Albuquerque, que plantou a semente da Vila Maria, que acabou nessa coisa encruada que está aí. Vai ter mão ruim pra planta assim na caixa do prego, vote!
Mas como eu ia dizendo, quando uma pessoa ou uma cidade vive o signo do azar, tudo dá errado, as coisas melam, dá caruncho, criam bicho de varejeira, azeda, vira merda. Veja que estamos a 20 anos embalando o sonho de uma ZPE, que seria a redenção socioeconômica de Cáceres e região (que há mais de 30 anos vivem sob o signo do atraso, do marasmo, da sonolência política e do abandono). Quando finalmente a tal ZPE de Cáceres é aprovada e tudo indica que vai dar certo, vem alguém e cria outras no Estado (a de Alta Floresta já foi aprovada na CDR – Comissão de Desenvolvimento Econômico) do Senado, mas o projeto, de autoria do senador Jayme Campos trabalha a criação de mais três, sendo uma em Várzea Grande, outra em Sinop e outra Barra do Garças. Ou seja, segue o boi com a corda para o brejo pantaneiro, principalmente se for (como certo será que o será) implantada a ZPE de Várzea Grande.
Resumindo a ópera, isso quer dizer que, Deus deu a farinha e o Jayme está carregando o nosso saco.
Acho que se Cáceres botar galinha pra chocar, nasce urubu.
Credo!