Artigo
ZÉ BACURI
O IMPLACÁVEL
FAQUINI
Ontem o Adamastor esteve lá em casa. O masguarepe catrambeiro passa eito de tampo sem dar com as fuças. Mas é só ecoar o grito de largada de uma campanha eleitoral, olha ele aí batendo palma no portão. E olha, se há troço que me enjeriza mais do que bateção de palma na porta, eu não conheço. Principalmente quando estou batendo um rango ou tirando uma pestana. O caso é que ninguém bate palma na porta da casa da gente pra levar dinheiro ou banda de porco. É só fazendo cobrança, pedindo esmola, indagando endereço de alguém ou vendendo bugiganga ou ainda, distribuindo capetinha, ou melhor, santinho. Minha vontade é mandar o tranca montar no capeta e ir bater palma no quinto dos infernos. Nem cachorro gosta de campainha de pobre (palma na porta). E o Adamastor é daqueles cujas palmas se ouve três quarteirões em volta.
Mas deixa isso pra lá, o fato é que o Dama (apelido do infame), como das outras vezes, só queria bater uma prosa no tocante às eleições. Mostrar as virtudes dos seus candidatos e garantir que, em sendo eles eleitos, tudo será melhor e o sol voltará a brilhar para todos. Mais escola, com ensino de qualidade; mais Saúde e mais remédios para todos; mais comida na panela dos pobres; mais Segurança, mais bolsa família; mais bolsa medicamentos, inclusive pra disenteria; aumento na bolsa presidiário; regulamentação da bolsa puta; bolsa gás; bolsa picanha, bolsa motel; bolsa moto-táxi; bolsa celular, bolsa material de pescaria; bolsa cerveja; bolsa bacalhau pra semana santa, entre tantas outras que, além das que já existem, serão implantadas.
“No governo do meu candidato a presidente – disse ele – (como se nesse País tivesse homem pra ser presidente) será banida do dicionário a palavra pobreza. No governo do meu candidato a governador do Estado, os hospitais e postos de saúde vão funcionar com cem por cento de qualidade. A Educação vai ser referência internacional, e não essa porcaria que está ai. A Segurança, ah, essa vai sofrer uma revolução de eficiência e vamos poder dormir de portas abertas e largar bolsa cheia de dinheiro no carro com os vidros escancarados. Com o trabalho parlamentar do meu candidato na Assembleia, a nossa cidade vai ser toda asfaltada, inclusive o esquecido Parque Nova Era, com toda a infraestrutura necessária, bem iluminada, com transporte coletivo nos quatro cantos do quadrante urbano. Os ônibus do transporte escolar terão ar condicionado, toalete a bordo e Wi Fi (uai fai) pra molecada não perder o time (taime) no vício desgraçado de viver tempo todo com o focinho fincado no celular, que isso também é inclusão social”, garantiu Adamastor, acrescentando que na proposta de governo dos seus candidatos consta ainda a criação do bolsa caixão e o bolsa viagra pra velharada broxa levantar o finado.
Fiquei de soslaio bispando aquela conversa e me veio a seguinte indagação: “Mas e o dinheiro pra pagar essa conta toda, vai sair de onde, Dama?” No que ele sem pestanejar redarguiu: “E o que importa de onde venha essa grana toda? Afinal, a classe produtiva está ai não é pra se esbrugar, produzir e pagar impostos e mais impostos e carregar essa carga no lombo feito jumento sem mãe? Além disso, temos a Petrobrás, o Pré-sal, o Agronegócio e a ajuda de Deus, que segundo a lenda, é brasileiro”.
Fiquei tão aturdido que nem me lembrei de oferecer café ao visitante…